Nosso caro Fabio Belviso escreveu um texto celebrando alegremente a vida parisiense, notadamente em seu aspecto, bem exterior, dos famosos cafés.
Quando estivemos recentemente em Paris, não frequentamos muitos deles. Na verdade, poucos, pois estávamos sempre em moto contínuo, de um lugar a outro, a pé ou metrô. Alguns, muito turísticos, muito cheios e caros. Assim, rumo à Torre de Montparnasse, passamos direto por uma fileira deles, todos célebres. La Closerie des Lilas, onde Hemingway escreveu algumas de suas obras; La Rotonde, Le Sélect, La Coupoule, Le Dôme, onde diz-se que Lenin atardava-se lendo jornais, à espera da revolução russa. Não esperávamos revolução alguma, então seguimos em frente.
Dei uma chegada no Deux Magots, em boa parte para fotografar as duas curiosas estátuas chinesas no pilar central, que são os Magots. Nem tentei ir à Brasserie Lipp, onde o escritor de O Velho e o Mar aplacou sua fome taurina com cervelas, batatas ao óleo e colossais doses de cerveja. Diz-se dali que o porteiro, mais parecendo um guardião kafkiano, olha dos pés à cabeça o pretendente a cliente. Se não gosta do que vê, manda-o andar. Se passar na inspeção, mas não for conhecido ou famoso, vai para o Purgatório, no segundo andar. Não, muito obrigado. Não estávamos com tanta fome como Hemingway, então…
Como disse, parar num café de Paris pressupõe ter-se tempo contemplativo, ou meditativo. Ou então, buscar lugar para escrever, como na Paris dos anos vinte. Será que alguém ainda escreve, neles? Não creio, é preciso fazer sempre uma boa pausa. Estávamos sempre apressados, mas ninguém é de ferro. Assim paramos em alguns, para a pose clássica, copo na mão e cadeiras de vime. Como no Primerose, perto da Galerie Monode, onde minha filha expôs alguns quadros. Estava bem cheio, mesmo no Boulevard de La Grenelle, bem longe do Centro de Paris, e tive de entrar pela lateral, para achar um lugar. Tudo lotado, também ao redor. O café é mesmo a sala de estar do parisiense, como a praia é a do carioca. Ou num pequeno e simpático café às margens do Canal St. Martin, numa tranquila manhã de domingo. Ou no do Jardin du Luxembourg, para um chocolate quente na gelada manhã de quase Primavera. Ou no La Tête a L´Envers, em Vincennes.
Mas, juro, se alguma vez voltar à bela Paris, preocupar-me-ei menos com museus e palácios, e mais em ver a festa parisiense desfilar diante de minha cadeira de vime e mesa redonda, de pés metálicos, pelo módico preço de um café.
Luiz Saidenberg